segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Uma Associação em Defesa do Patrimônio Arroio-grandense

Nos últimos tempos, movimentos em prol da preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural têm crescido em todo o país, sejam motivados por políticas públicas empenhadas e flexibilizadas para com este setor, sejam pelo crescente número de pessoas engajadas na promoção de legados para a contemporaneidade, sendo eles tanto materiais como imateriais. Uma semente plantada, cujos brotos começam a vigorar e tornarem-se ramos.
Panorâmica horizontal de Arroio Grande. Origem: Acervo Pessoal.
Com Arroio Grande não poderia ser diferente. No ano de 2013, precisamente na data de 02 de abril, surge um grupo na rede social Facebook, com o intuito de reunir todos aqueles que possuíssem interesse na defesa do patrimônio da cidade de Arroio Grande, os “Defensores do Patrimônio Histórico e Cultural de Arroio Grande-RS”, criado pela Professora Carla Hernandez Silveira Machado. A partir de então, o grupo passou a divulgar todo tipo de conteúdo virtual que viesse ao encontro da causa, desde fotos, textos e até vídeos, procurando o resgate da memória sociocultural do Município.
Recente reunião da Associação de Defensores do Patrimônio Histórico e Cultural de Arroio Grande-RS. Foto: Carla Hernandez Silveira Machado.
Os Defensores foram ganhando fôlego e, no mesmo ano, participaram de uma Sessão Ordinária na Câmara de Vereadores, reivindicando pela causa da preservação patrimonial, apresentando-a para a sociedade e sublinhando a sua importância. Àquele momento, o grupo já contava com aproximadamente 700 integrantes. 
A "Voz dos Pampas", torre pela qual outrora se divulgavam acontecimentos na cidade. Origem: Acervo pessoal
E o número não parou de crescer, assim como o engajamento em prol da conservação de espaços e memórias. Duas lutas do grupo neste sentido podem ser mencionadas, sendo uma delas no intuito de que acontecesse a restauração do primeiro prédio da Câmara Municipal, situado na esquina das Ruas Doutor Monteiro e Herculano de Freitas – hoje, vemos a iniciativa tomando concretude, uma vez que foi dado início à reforma do mencionado prédio –; a segunda, por sua vez, veio ao encontro de homenagear os 170 anos do falecimento de Joaquim Teixeira Nunes, herói farroupilha cujos restos mortais jazem no adro da Igreja Matriz.
Prédio onde foi situada a Primeira Câmara Municipal. Aquarela de Lizandro Araújo.
A causa do grupo, desde então, tem tomado reconhecimento em maiores proporções dentre os arroio-grandenses. Por esse motivo, está-se formando uma associação, a “Associação de Defensores do Patrimônio Histórico e Cultural de Arroio Grande-RS” – DEFENSORES-AG, cujos objetivos vêm ao encontro de valorizar, recuperar, restaurar e preservar legados histórico-culturais; promover eventos de cunho educacional e cultural; assim como desenvolver mecanismos que garantam a preservação do patrimônio histórico – material e imaterial – e cultural do Município, dentre outros. 
Torre da Igreja Matriz de Arroio Grande. Origem: Acervo pessoal.
Imerso a toda essa trajetória e finalidades, tem-se um objetivo-mestre: a conscientização de todos da importância de preservar. Preservar é alargar nossa memória e existência para além dos limites físicos a que somos condicionados.  Preservar é proporcionar às gerações futuras e às atuais uma identidade firmada. Preservar é compor-se como um indivíduo consciente de sua história. Preservar é viver.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Um Convite aos Poemas de Plástico, de Gustavo Rückert

Por Elizandro Rodrigues de Rodrigues

Lê-se a primeira página e passa-se à segunda; lê-se a terceira e quarta e assim por diante; quando vemos, chegamos à metade do livro, acompanhados de muitas instigações, tão atrativa, reflexiva e empolgante a sua leitura o é. Assim pode ser definido Poemas de Plástico, de Gustavo Rückert. Uma surpresa poética, que, ao condicionar a poesia ao status de plasticidade, nos permite refletir o texto e a linguagem como objeto artístico na conjuntura estabelecida pelo panorama cultural contemporâneo. Arriscaria, neste momento, uma alusão a Andy Warhol – de imediato título e capa me remeteram ao artista pop
E quando chamo a atenção para o dinamismo e atratividade contidos no livro falo sério: o magnetismo constante nos versos e estrofes nos cativa, ao ponto de vermos poesia, também, nos espaços não grafados das páginas; o poema, assim, possui propulsão que faz com que extravase a limes dos sentidos, compondo seu significado próprio e estabelecendo um diálogo constante – tanto reflexivo como de alteridade, arriscar-me-ia novamente – com o leitor. 
Num mundo segregado de questões político-sociais e culturais, Poemas de Plástico nos chega promovendo uma reflexão sobre temas que, em razão do cotidiano, deixamos muitas vezes de lado, como o tempo, a religiosidade, a filosofia, a existência, o próprio cotidiano, entre tantos outros. Todos eles, entrelaçados, costurados, separados e/ou justapostos, trabalham harmonicamente em um jogo de sentidos múltiplos que faz com que a fruição habite em nós como uma segunda pele, promovendo, juntamente, retomadas, alusões, menções e referências, como em “Aristóteles, inventor do relógio” e “Poema de nenhuma verdade”.

Plástico é apenas uma palavra
Não pode ser explicado senão por outras palavras
Todas as palavras são, portanto, de plástico.
(Gustavo Rückert, Material)

Aristóteles, no início de sua Poética, postulou categoricamente que “poesia é imitação”; em linha tangencial, na contemporaneidade, Pierre Bourdieu apontou para a reprodução social como foco dominante do viés de condução da formação e produção artístico-cultural de nosso tempo. Rückert, por sua vez, não percorre estes caminhos: seus versos e reversos, dotados de criatividade do cotidiano, compõem uma bela estesia literária e, assim, uma boa pedida de leitura. Se há um significado para a palavra fruição, sem dúvida alguma Poemas de Plástico contribui para o aporte de formação de sua acepção.