quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Luís de Camões e Sua Visão Classicista Sobre Inês de Castro



Luís de Camões, em seu livro “Os Lusíadas”, nos traz no terceiro canto sua visão sobre o episódio de Inês de Castro numa estética peculiar em relação às demais tratadas. Poeta por excelência, Camões figura no período tido como Classicismo. Pode-se definir o Classicismo como uma concepção de arte baseada na imitação dos clássicos gregos e latinos, que são tomados como modelos perfeitos. Esse conceito de imitação deve ser encarado não como cópia, mas sim como uma expressão própria fundamentada nas fórmulas e nos modelos antigos.
Num paralelo entre a poesia de Garcia de Resende e Camões, podemos observar que embora estes dois poetas tratassem de um mesmo tema, há características que os distinguem e que ao mesmo tempo os interligam. Talvez, num primeiro momento, essa distinção e entrelaçamento se caracterizem como um aspecto inquiridor e necessário, para uma maior compreensão da produção literária do que parece ser de duas grandezas da literatura portuguesa com objetivações próprias e não menos específicas.
O terceiro canto de “Os Lusíadas”, o qual versa sobre o episódio Inês de Castro, apresenta um lirismo mais comedido e descritivo. Nesses versos há, indubitavelmente, uma aproximação mais viva e sugestiva que se processa entre as pessoas e a natureza. Analisaremos o terceiro canto, numa tentativa de construção de identidade a partir da interpretação das estrofes.
O autor nos traz a visão de uma D. Inês enclausurada, a qual vivia a vida deixando-a passar, sem ter preocupações, a típica vida da mulher medieval. Mas, além disso, ele ainda nos traz neste verso o destaque dela sobre as outras à sua volta, pois ele narra que ela tinha boas condições, era bem-amparada, como podemos ver na estrofe abaixo.

CXX
Estavas, linda Inês, posta em sossego
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando, e ás ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Camões também narra sobre a tragédia ocorrida com D. Inês, sua morte, e, assim como Fernão Lopes e Garcia de Resende, ele a põe como uma mártir do ocorrido, como podemos ver na estrofe que se segue.

CXXIII
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso:
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada.

Além do apresentado podemos destacar de Camões o tratamento poético dado ao amor e à morte, assim como faz Garcia de Resende.

Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que amor matou de amores.

Há, indubitavelmente, uma ligação precípua entre esses dois poetas, como também não podemos discordar que há elementos de distinção, que asseguram a ambos qualidades essenciais nada passageiras. O fato é que, rompendo com o formalismo de seu tempo, Garcia de Resende se posiciona numa tentativa de ruptura com a dependência trovadoresca, ainda que trazendo alguns resquícios das cantigas de amor e de amigo. Quando Camões escreveu seus versos, esse fato parecia já estar resolvido. Então era preciso retornar definitivamente aos clássicos a fim de que se produzisse uma literatura de qualidade e de alcance. O classicismo foi o desfecho de toda essa objetivação.

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