quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Atenção: Ingrid Bergman e Anthony Quinn Visitam Nosso Blog

... Brincadeirinha. O título desta postagem refere-se ao filme "A Visita da Velha Senhora", um filme de 1964 dirigido por Bernhard Wicki e que contou com a participação dos referidos atores nos papéis de protagonistas. Confiram a galeria de fotos abaixo, com as cenas do filme. O filme é uma co-produção da França, Itália, Alemanha e Estados Unidos, indicado para Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1964 e nomeado para o Oscar de Melhor Figurino no mesmo ano.





Claire, mais conhecida como Clara Zahanassian (Ingrid Bergman), uma mulher que retorna fabulosamente rica para a aldeia decadente da qual tinha sido forçada a deixar, anos mais cedo, em situação de desgraça. Ela teve um filho com Serge Miller (Anthony Quinn), que negou a paternidade. Seu propósito nesta "visita" é fazer um acordo com os moradores - em troca de uma grande soma de dinheiro, ela quer Miller morto. A princípio eles relutam, porém finalmente aceitam o acordo e Miller é condenado à morte. No último momento, para a surpresa de todos.... algo inesperado acontece....




O filme também conta com a participação dos renomados atores Claude Dauphim, Irina Demick, Paolo Stoppa, Romolo Valli, Valentina Cortese, entre outros. A produção é uma adaptação da peça teatral "Der Besuch der Alten Dame" (A Visita da Velha Senhora, literalmente), do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt. O foco central da história é um estudo dos elementos mais obscuros da natureza humana. Uma tragicomédia que não se pode deixar de assistir.

Até a próxima postagem!!!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Casamento de Marilyn Monroe com Leopold Bloom



Marilyn leu Ulisses.
Marilyn encontrou nele um companheiro de personalidade: Leopold.
Marilyn pensava; assim como também o pensava Leopold.
Marilyn via-se refletida em Leopold, assim como talvez supusesse que ele também se via refletido nela.
Marilyn via em Leopold, assim como via em Ulisses, alguém com os mesmos dramas.
Marilyn casou-se com Leopold, mesmo estando os dois em tempos físicos diferentes.
Marilyn e Leopold compuseram, juntos, uma simbiose perfeita, irreal e atemporal.
Marilyn sonhou: e, de seu sonho, Leopold a acordou.
Marilyn sofreu: e, em meio a seu sofrimento, buscou refúgio nos braços de Ulisses.
Marilyn chorou com Ulisses, bem como também chorou com e por Leopold.
Joyce veio consolar Marilyn, dizendo-lhe que Ulisses e Leopold eram frutos de sua imaginação.
Marilyn não acreditou.
E, neste universo imagético, restou-nos apenas a memória e literatura.

Um segundo: E a Fotografia de Robert Doisneau

Olá! Diria certa vez um pensador: "A fotografia é a poesia da Imobilidade: é através da fotografia que os instantes deixam-se ver tal como são". Sem dúvida, isso é o que ocorre nas lentes de Robert Doisneau.




Robert Doisneau (14 de abril de 1912 - 1 de abril de 1994) foi um famoso fotógrafo nascido na cidade de Gentilly, Val-de-Marne, na França. Era um apaixonado por fotografias de rua, registrando a vida social das pessoas que viviam em Paris e em seus arredores, mas também trabalhou em fotografias para publicações em revistas, assim como a famosa fotografia "O Beijo do Hotel de Ville" (Paris, 1950).


Doisneau foi um dos fotógrafos mais populares da França. Era conhecido por sua modéstia e imagens irônicas, misturando as classes sociais das ruas e cafés de Paris. Influenciado pela obra Atget, de Kertész e Cartier Bresson, Doisneau apresentou em mais de vinte livros uma visão encantadora da fragilidade humana e da vida como uma série de momentos calmos e incongruentes.






Diria ele certa vez: "As maravilhas da vida cotidiana são tão emocionantes. Nenhum diretor de filmes pode organizar o inesperado que você encontra na rua". Aproveite esta maravilhosa seleção de fotos do artista, que retrata um pouco da identidade francesa através das lentes de sua câmera fotográfica!







 
Até a próxima postagem!!!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Identidade Étnica: Stuart Hall, Semana da Consciência Negra, "Suburbia" e Joaquim Barbosa


Olá! Levando em consideração o fato de estarmos passando pela Semana da Consciência negra, que tem como norteadora o dia 20 de novembro, em que se comemora o Dia da Consciência Negra, remeto ao texto de Stuart Hall, no qual ele já propõe um questionamento já no título: “Que Negro é esse na Cultura Negra?” Creio ser pertinente que reflitamos acerca de acontecimentos atuais com base nas reflexões de Hall para que possamos perceber a importância do que se está comemorando, que não se contém apenas em uma semana ou um feriado (em alguns municípios o Dia da Consciência Negra é estipulado feriado), constitui um firmamento étnico de respeito tanto à raça quanto à cultura negras. A seguir, segue uma leitura do ensaio de Hall, acompanhada de acontecimentos recentes e de importante relevância para a conquista dos direitos étnico-raciais.


Hall inicia o seu ensaio com uma pergunta – Que tipo de momento é este para se colocar a questão da cultura popular negra? – e é com base nela que discorre o seu texto. Ao falar de “momento”, o autor nos lembra que devemos ter em mente que eles têm sua especificidade histórica, uma vez que estes são sempre conjunturais. Ainda que estes momentos apresentem semelhanças e continuidades com outros momentos, jamais poderão ser “o mesmo momento”. E essa reunião do que é semelhante e diferente que definirá não só a especificidade do momento, como também a especificidade da questão, logo, “as estratégias políticas com as quais se tenta intervir na cultura popular, bem como com a forma e o estilo da teoria e crítica cultural que precisam acompanhar essa combinação” (p. 337).
Para melhor compreender essa especificidade do momento, Hall apud West aponta três grandes eixos: “O primeiro é o deslocamento dos modelos europeus de alta cultura, da Europa enquanto sujeito universal da cultura (...); O segundo é o surgimento dos EUA como potência mundial e, consequentemente, como centro de produção e circulação global de cultura (vale lembrar que esse surgimento ocorre de maneira simultânea, pois há ‘o deslocamento e uma mudança hegemônica da definição de cultura)’; O terceiro eixo é a descolonização do Terceiro Mundo, marcado culturalmente pela emergência das sensibilidades descolonizadas”. (p. 335-6). Fica evidente que todos estes três eixos estão inseridos no contexto americano.
Para o referido autor esse descentramento e/ou deslocamento de que fala em um dos eixos representa uma abertura para novos espaços de contestação, causando assim uma importante mudança na alta cultura das relações culturais populares, “apresentando-se, dessa forma, como uma importante oportunidade estratégica para intervenção no campo da cultura popular” (p. 337), assim se pode dizer que é um momento peculiar para se propor a questão da cultura popular negra.
Estamos vivendo o espaço mais produtivo culturalmente e isso não é simplesmente uma abertura dentro dos espaços dominantes. É também o resultado de políticas culturais da diferença, “de lutas em torno da diferença, da produção de novas identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político”. Isso não é válido tão somente para a raça, mas para outras etnias marginalizadas, assim como o feminismo e as políticas sexuais no movimento de gays e lésbicas, como resultado de um novo tipo de política cultural. Essa luta em torno da diferença é chamada hegemonia cultural – que não significa "vitória ou dominação" - trata-se apenas de cambiar “as disposições e configurações do poder cultural e não se retirar dele”.
No que diz respeito à cultura popular, Hall fala sobre o que ressoa a palavra "popular" e o seu papel. Apesar de ter um certo sentido, pois a cultura popular se fundamenta nas experiências cotidianas de pessoas comuns, prazeres, memórias e tradições de um povo. Por isso que muitas vezes ela está associada ao que Bakhtin chama de vulgar – o popular, o informal, o grotesco, o lado inferior. “O papel do popular na cultura popular é o de fixar a autenticidade das formas populares (...) permitindo vê-las como expressão de uma vida social subalterna específica, que resiste a ser constantemente reformulada enquanto baixa e periférica”. É o que Gramsci chamou de “nacional popular”, pois este entende que é no terreno do senso comum que a hegemonia cultural é produzida e se torna objeto de lutas.
Quanto à cultura popular negra, é conceituada como um espaço contraditório e de constante contestação, não podendo ser reduzida aos termos das simples “’oposições binárias’ habitualmente usadas para mapeá-la: alto ou baixo, autêntico versus inautêntico (...)”, pois existem sempre posições a serem conquistadas.
Hall conclui o seu ensaio com dois pensamentos. O primeiro é que “lembrando que a cultura popular, mercantilizada e estereotipada, não constitui, como às vezes pensamos, a arena onde descobrimos que realmente somos, a verdade da nossa experiência (...); O segundo é que “embora pareça que o terreno do popular seja edificado sobre o binarismo, não o é”.


Junto às comemorações da Semana da Consciência Negra aconteceu hoje um fato muito importante para a sociedade brasileira: o ministro Joaquim Barbosa foi empossado nesta quinta-feira (22) como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). É uma importante conquista para a comunidade negra brasileira, visto que ele será o primeiro ministro negro a ocupar a cadeira da presidência do Supremo.
A cerimônia de posse foi conduzida pelo ministro com mais tempo de corte, Celso de Mello, que foi responsável por dar posse ao novo presidente.
Barbosa assinou às 15h34 o termo de compromisso. Antes, fez juramento: "Prometo cumprir os deveres do cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça em conformidade com as leis", afirmou Barbosa.
Em seguida, foi empossado como vice-presidente do STF e do CNJ o ministro Ricardo Lewandowski: "Prometo bem e fielmente cumprir os deveres do cargo de vice-presidente", declarou Lewandowski.
Divergências sobre o relatório final e sobre a forma de conduzir o julgamento do mensalão provocaram vários embates entre Barbosa e Lewandowski.
A presidente Dilma Rousseff e várias celebridades acompanharam a cerimônia de posse. Entre os famosos que acompanharam solenidade estão os atores Taís Araújo, Lázaro Ramos e Milton Gonçalves, o cantor Djavan, a apresentadora Regina Casé e o tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet.
Em razão da aposentadoria de Ayres Britto, que completou 70 anos no último domingo (18), Barbosa assumiu interinamente a presidência do Supremo na segunda (19). Na quarta (21), comandou pela primeira vez uma sessão de julgamento do processo do mensalão, do qual é relator.
A posse de Joaquim Barbosa na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) é marcada pelo simbolismo da chegada de um negro a um alto cargo na estrutura de poder, mas movimentos sociais ligados à questão racial no Brasil se dividem sobre o papel que o ministro deve assumir. Um grupo defende que é o momento de enfatizar a discussão sobre o racismo e a desigualdade na sociedade brasileira. Para outros, não cabe ao ministro levantar bandeiras.
O novo presidente do Supremo em sua vida acadêmica sempre explorou a desigualdade social e o racismo como tema de teses e palestras. Mas no exercício profissional, seja no Ministério Público Federal ou no próprio STF, nunca se levantou como porta-voz da discussão.


Outro importante acontecimento de importante relevância para a cultura brasileira é a exibição do seriado “Suburbia”. Adorado pela crítica, mas nem sempre compreendido pelo público, o diretor Luiz Fernando Carvalho volta seu olhar e as câmeras agora para o subúrbio do Rio de Janeiro, na série que é transmitida pela Rede Globo, todas as noites de quinta-feira.
O mais interessante e que se encontra presente, no primeiro momento em que nos deparamos com o seriado às telas, é a valorização da presença de pessoas negras, uma conquista no espaço televisivo, visando retratar a identidade e a realidade das pessoas que residem no subúrbio carioca. O seriado é de suma importância para a construção do pensamento brasileiro, e sem dúvida proporá uma guinada subjetiva na forma de se pensar as questões étnico-sociais existentes na diversidade brasileira, tratando-as de forma reflexiva.
A proposta do diretor foi dar um tom naturalista à produção, aproximando os personagens o máximo possível da realidade das comunidades cariocas, sem estereótipos. Atores do grupo teatral Nós do Morro, com sede na comunidade do Vidigal, integrantes do grupo de rap Panteras Negras e músicos do Afro Reggae e do Afro Samba foram convocados para conferir ainda mais realismo ao subúrbio carioca retratado na série.
A produção, que está sendo divulgada como "Uma história de amor e drama social vivida em meio à rede de afetos que move a vida no subúrbio carioca", é centrada em Conceição (Débora Nascimento/Erika Januza), garota que foge do ambiente hostil e miserável dos fornos de carvão de Minas Gerais para tentar uma vida melhor no Rio de Janeiro. Mas, ao desembarcar no Aterro do Flamengo, percebe que a violência que conhecia na cidade natal apenas mudou de nome e forma nessa nova realidade.
Criada a partir das memórias de uma antiga empregada doméstica de Luiz Fernando Carvalho, Suburbia deverá ter um tratamento estético menos estilizado do que aquele visto em produções anteriores do diretor, como Hoje É Dia de Maria (2005) e A Pedra do Reino (2007). O tom deverá ser mais próximo de Cidade dos Homens, outra série com temática semelhante e que foi ao ar entre 2002 e 2005, com direção de Guel Arraes. Não à toa, ambas têm o escritor Paulo Lins (autor também de Cidade de Deus) como consultor e roteirista. Em entrevista, Lins anuncia Suburbia como um marco da TV brasileira.

Vejo nestes dois acontecimentos, um no âmbito jurídico brasileiro e outro no âmbito ficcional, mais um passo na conquista pelo firmamento de uma identidade étnica brasileira. Oxalá que nesse nosso maravilhoso país, berço de muitas diversidades, se encaminhe cada vez mais para a convivência pacífica e o tratamento igualitário a todos os grupos e raças. Muito axé a todos!!!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Arte do "Recorta, Remonta, Ressignifica" Proposta pelo Dadaísmo

Olá! Hoje trago um tema que, no âmbito acadêmico, sempre me intrigou: "Afinal, o que viria a ser o tal Dadaísmo??" Isso me instigou em fazer uma pesquisa acerca do tema, tendo em vista que muitos textos de crítica literária, principalmente os que são voltados ao período das vanguardas e do modernismo. 

Pois bem, aí vai. O movimento Dadá (Dada) ou Dadaísmo foi um movimento artístico da chamada vanguarda artística moderna, iniciado em Zurique, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, no chamado "Cabaret Voltaire". Tal movimento era formado por um grupo de escritores, poetas e artistas plásticos, dois deles desertores do serviço militar alemão, liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp.

Embora a palavra "dada" em francês signifique "cavalo de madeira", sua utilização marca o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um bebê). Para reforçar esta ideia foi estabelecido o mito de que o nome foi escolhido aleatoriamente, desta forma, abrindo-se uma página de um dicionário e inserindo-se um estilete sobre ela. Isso foi feito para simbolizar o caráter antirracional do movimento, claramente contrário à Primeira Guerra Mundial e aos padrões da arte estabelecida na época. Em poucos anos o movimento alcançou, além de Zurique, as cidades de Barcelona, Berlim, Colônia, Hanôver, Nova York e Paris. Muitos de seus seguidores deram início posteriormente ao surrealismo e seus parâmetros influenciam a arte até hoje.

No seu esforço para expressar a negação de todos os valores estéticos e artísticos correntes, os dadaístas usaram, com frequência, métodos deliberadamente incompreensíveis. Nas pinturas e esculturas, por exemplo, tinham por hábito aproveitar pedaços de materiais encontrados pelas ruas ou objetos que haviam sido jogados fora.

Foi na literatura, porém que a ilogicidade e o espontaneísmo alcançaram sua expressão máxima. No último manifesto que divulgou, Tzara disse que o grande segredo da poesia é que "o pensamento se faz na boca". Como uma afirmação desse tipo é evidentemente incompreensível, ele procurou orientar melhor os seus seguidores dando uma receita para fazer um poema dadaísta, que segue abaixo:

- Pegue um jornal.
- Pegue a tesoura.
- Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
- Recorte o artigo.
- Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
- Agite suavemente.
- Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
- Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
- O poema se parecerá com você.
- E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

Quem já não ouviu falar na "Fonte", do artista francês Marcel Duchamp? Ela e seu Duchamp foram os precursores do Dadaísmo, bem como do que veio a se conhecer como "pop-art" e "op-art", nos anos 50 e 60, que têm como seu maior expoente Andy Wharol. Mas aí já é outra conversa.

A Fonte, obra que fez repercutir o nome de Duchamp ao redor do mundo - especialmente depois de sua morte -, está baseada no conceito de ready made: pensada inicialmente por Duchamp (que enviou-a com a assinatura "R. Mutt" -fábrica que produziu o urinol-, lida ao lado da peça) para figurar entre as obras a serem julgadas para um concurso de arte promovido nos Estados Unidos, a escultura foi rejeitada pelo júri, uma vez que, na avaliação deste, não havia nela nenhum sinal de labor artístico. Com efeito, trata-se de um urinol comum, branco e esmaltado, comprado numa loja de construção e assim mesmo enviado ao júri, entretanto, a despeito do gesto iconoclasta de Duchamp, há quem veja nas formas do urinol uma semelhança com as formas femininas, de modo que se pode ensaiar uma explicação psicanalítica, quando se tem em mente o membro masculino lançando urina sobre a forma feminina.

Com base nestas novas posturas diante da arte é que o Dadaísmo se firmou. Num momento em que o mundo, em especial a Europa, passava por um estado de incertezas, o Dadaísmo vem de encontro a estas, a fim de tentar explicar o que estava acontecendo, bem como uma tentativa de firmamento no campo das artes. Embora muitas das propostas dadaístas pareçam infantis aos nossos olhos "modernos", precisamos levar em consideração o momento em que surgiram. Não é difícil aceitar que, para uma Europa caótica e em guerra, insistir na falta de lógica e na gratuidade dos acontecimentos deixa de ser um absurdo e passa a funcionar como um interessante espelho crítico de uma realidade incômoda.

Bom, chega de texto. Agora vem a parte que mais agrada aos nossos olhos. Trago abaixo uma seleção de fotos, que se inspiram no movimento dadaísta. Apreciem-nas. São ricas em significados.







Até a próxima postagem!!!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Riqueza e as Variações da Pintura Flamenga

Olá! Segue abaixo uma seleção de telas de pintores flamengos datados entre os séculos XV e XVII. Notem a diversidade de temas, bem como a riqueza no traçado das telas...




A pintura flamenga floresceu no começo do século XV até o século XVII. A região de Flandres, no norte da Bélgica e nos Países Baixos, produziu os maiores pintores do norte da Europa e atraiu muitos outros de regiões vizinhas.





A Pintura flamenga surgiu igualmente através do desenvolvimento de uma mentalidade burguesa (comércio e banca; mercado da arte) e está ligado a uma evolução ideológica para novas formas menos trancendentais para com a Natureza cultura visual fundamentada em tradições que privilegiam a observação atenta do mundo natural e valorizam a superfície material da imagem.




À visão sintética e unitária da perspectiva linear, contrapõe-se na pintura flamenga, uma análise meticulosa da realidade integrada numa concepção mais empírica do espaço. O elemento unificador é a luz que envolve todas as partes da representação, valorizando os mínimos pormenores.




O resultado é uma descrição extremamente precisa da riqueza do universo visível  onde o espaço atribuído ao homem não é central nem exclusivo, pois cada elemento, quer seja um objecto do quotidiano ou uma parte da paisagem, merece ser representado e adquire um significado simbólico.


Até a próxima postagem!!!!

domingo, 18 de novembro de 2012

Uma Avenida Chamada Niévski: Conhecendo São Petersburgo a partir da Obra de Nikolai Gógol

Здравствуйте! Parece estranho, não? Mas é "Olá!" em russo. Falaremos aqui um pouquinho sobre "Avenida Niévski", um conto do escritor russo Nikolai Gógol, que recentemente recebeu nova tradução de Rubens Figueiredo e foi impresso pela editora Cosacnaify. Este, por sua vez, recebeu uma edição de luxo. O conto veio acompanhado de litografias da Avenida Niévski, datadas entre 1830 e 1836 e, em um encarte separado, "Notas de Petersburgo de 1836", também de Gógol. Tudo isso embrulhado em um papel grande, que imita muito um jornal russo da época. Há de se atentar para a forma como vem disposto o conto no primeiro encarte descrito: o texto "imita" o vai-e-vem das calçadas de uma avenida, o que significa que ele "anda", junto com o leitor. 


Quando iniciamos a ler o conto, já o percebemos isso. A leitura vai até a metade da página, pois a outra metade vem de cabeça para baixo. E isso se dá em todas as páginas. Resultado: começamos a ler o conto na página 1 e terminamos na página 67, na primeira posição. Para lermos da página 68 até o fim do conto, na página 134, teremos de virar de cabeça para baixo o livro, voltando, assim, para a primeira página. Um belo trabalho gráfico da editora, que se dá também com as imagens litográficas impressas na edição.

Comecemos a falar do conto, em si: Avenida Niévski está entre as primeiras produções de Nicolai Gógol (1809-1852). O escritor acha-se com 26 anos e demonstra um olhar modernista "avant la lettre": a novela está repleta de características fartamente encontradas mais tarde na literatura e nas artes do século XX.

Precursor, Gógol tem um ponto de partida assaz simples: logo nas primeiras linhas, faz o elogio da Avenida Niévski, então famosa em Petersburgo (e que será coadjuvante em novelas posteriores do seu compatriota Dostoiévski):

'Não há nada melhor do que a Avenida Niévski, pelo menos em Petersburgo; para essa cidade ela representa tudo. Com o quê não brilha essa rua - beldade de nossa capital?'

O elogio é demasiado aberto, excessivo; para não ser ironia, Gógol teria de ser menos artista, menos sensível aos efeitos de um tom acintoso no elogio como é o começo da narrativa. Mas ele não é menos artista, ao contrário; do início ao desenvolvimento até a conclusão veremos seu domínio da escrita, e, portanto, do seu objetivo.

Avenida Niévski, retratada ao final do Século XIX.

Avenida Niévski, atualmente.

A Avenida Niévski é estonteante, um local de passeio, de encontro entre conhecidos, de exibição de elegância ou beleza; Gógol vai demonstrando sua peculiaridade enquanto dá-nos um retrato da rua em flashes que são recortes do que se passa nela; seus transeuntes, arrolados por ele para nosso olhar, são identificados por detalhes: bigodes, chapeuzinhos, mangas de vestimentas femininas, cinturas, sobrecasacas, um par de olhos, um 'maravilhoso nariz grego' (pág. 19), um pezinho, uma gravata... Recortes que o escritor desfila ante nós à maneira modernista: como escreveu Marshall Berman, a técnica descritiva nessas páginas iniciais tem algo de uma tela surrealista (ou cubista).

Gógol assim faz um panorama da avenida das primeiras horas da manhã até o anoitecer; aqui, então, passa a nos falar de dois conhecidos que vêem duas jovens mulheres passando pela rua. Um, o pintor Piscariov, é uma figura tímida, talentosa, idealista; Gógol trata de pô-lo em contraste com a 'praticidade' e a 'sofisticação' da avenida, o que não pressagia nada de bom para o personagem.

O outro homem é o tenente Pirogov, um tipo bem diverso: vaidoso, metido a conquistador, segue a moça que lhe chamou a atenção e, se nem tudo lhe sai bem, ele não é da espécie de indivíduo cuja natureza possa sofrer uma decepção sentimental.

Este é o enredo de Avenida Niévski: a visão de uma rua, dois homens que olham duas mulheres, e o que lhes acontece ao separarem-se para irem atrás de seus sonhos...
Gógol encerra a história no mesmo tom leve e irônico do começo, só que agora com afirmações inequívocas das suas 'reservas' quanto à avenida:

'Oh, não acredite nesta Avenida Niévski! Sempre que caminho por ela protejo-me melhor com a minha capa e tento não olhar para nada com que me deparo. É tudo um embuste, uma ilusão, nada é aquilo que parece ser! (...)' (pág. 89-91)

A conclusão, portanto, é que a Avenida Niévski é um lugar de ilusões, de irrealidade, de aparências. Mas o que Gógol não nos diz explicitamente, porém nos deixa em dúvida, é - será, afinal, que só os que nada levam a sério, só os que não empenham o coração no que 'vêem', podem atravessá-la incólumes? 

Bom, a resposta só se pode obter lendo o conto. Agora, para "agradar aos olhos", trago, a seguir, uma seleção de imagens. Levando em consideração o fato de a Avenida Niévski situar-se em São Petersburgo, cidade russa que é palco de muitas outras histórias, como "Crime e Castigo", de Dostoiévski, é bom ter-se em mente o lugar em que os acontecimentos se sucedem. Espero que gostem!

A Riqueza da Arquitetura Russa.

A Catedral de Santo Isaac.

Zona Central de São Petersburgo.

Pátio interno do Palácio Principal.

Jardim de Palacete

Piso interno do Museu Hermitage.

O Cavaleiro de Bronze, monumento a Pedro, o Grande. Ao fundo, a catedral.

Praça central.

Parte frontal do Palácio de Inverno.

O Rio Neva, ao entardecer.

O Hermitage, ao longo do Neva.
 Até a próxima!!!